Background

A arte de Ernesto Neto é uma experiência que gera associações com o corpo e com alguma coisa orgânica. Ele descreve sua obra como uma exploração e uma representação da paisagem interna do organismo. É importante para Neto que o telespectador interaja ativamente e fisicamente com seu trabalho, seja tocando, cheirando ou sentindo. Em algumas obras, os amontoados de temperos são dispostos no chão enquanto as extremidades dos tubos de tecido são amarradas no teto, gerando a verticalidade das esculturas e também uma interação com o espaço expositivo. As esculturas apresentam alusões ao corpo humano, no tecido que se assemelha à epiderme e nas formas sinuosas que se estabelecem no espaço[1].
Os títulos dos trabalhos reiteram a intenção do artista de situar o corpo humano na centralidade de sua obra: O Céu É a Anatomia do Meu Corpo ou Acontece na Fricção dos Corpos (ambas de 1998). Algumas questões são constantes desde o início da carreira de Ernesto Neto: problemas de peso e resistência dos materiais, corpos com elasticidade que se sustentam sob pressão, organismos tratados como fluxo permanente de transformação[2]. Manuseáveis, eróticos e fluidos, esses objetos masculinos/femininos prolongavam-se no espaço, em estados móveis e aleatórios, como corpos ativos que distendesse sua ‘pele’. Na época, o artista falou desses objetos como forma de sentir sua ‘própria pele’ no trabalho, como se eles, ao se reproduzirem e se multiplicarem, fossem uma extensão sua – ‘pedaços de mim que proliferam’.